quinta-feira, 24 de março de 2011

Levando esperança e alegria!

Se há coisa que gosto de fazer é andar pelas ruas e falar com as pessoas, dizer-lhes "Olá", saber como estão. As pessoas do Alentejo e das regiões limítrofes são intimistas, podendo até ser confundidas com coscuvilheiras, mas não, elas são mesmo assim, não fazem por mal. Encontram-me e perguntam-me "Tão filho onde é que vais?"; "Tão como é que estão os pais em casa? Tá tudo bem?" e se respondo que sim, eles lá dizem num tom carinhoso e enérgico "Belo!"
Por mais acelerados que andemos na nossa vida, é irresistível não perder 2 ou 3 minutos com as pessoas que encontramos, é uma comunhão generosa de palavras, onde as velhotas e mesmo pessoal mais novo fala com alguém e ao mesmo tempo sabem notícias nossas.
Na segunda-feira, o meu tio e padrinho foi atropelado, um senhor que aos 66 ou 67 anos, se encontra deprimido e muito triste, por não ter lidado muito bem com a redução do ritmo de vida, após a reforma. E como ele era antes...um homem que tinha uma horta invejável, que tratava dos animais com um enorme carinho, que dava umas gargalhadas maravilhosas... Um homem cheio de vida. Felizmente, ficou apenas magoado com este atropelamento e eu que já não o via há algum tempo, pois as famílias são dinamicamente complicadas e, às vezes, as pessoas afastam-se durante muito tempo, fui hoje visitá-lo. Sempre foi o meu tio querido, adorava-me em pequeno. Lembro-me de entrar na cozinha e ir a correr para o cólo dele, onde ficava todo o serão. Ficámos duas horas à conversa, eu, o meu tio e a minha tia. Falámos do país, da vida dele, daquilo que eles pensam, mas não num pessimismo aflitivo, mas sim tal como as coisas são. A minha tia é uma mulher de armas, trabalhou toda a vida para dar o melhor aos filhos, para ter uma vida melhor. No Natal, caiu e partiu um braço e sabem que mais? Mesmo magoada, fez a horta toda, continuou a tratar dos animais e acompanhou o meu tio, tudo para que ele visse a casa a mexer, para que ele não se encostasse ao desânimo. É tão bonito... Agora ele diz-lhe que não tem uma mulher de ouro, tem uma mulher de diamante. É muito bonito, ver um casal que teve as suas agruras, tal como todos, durante 40 anos de casamento, onde surgiram filhos e depois netos, haver esta noção de amor. O meu tio ficou muito feliz quando me viu, os olhos até brilharam e durante duas horas tentei animá-lo ao máximo, dizer-lhe que a horta está a sua espera, que é um desperdício um mestre estar parado e que tem que sair, ver pessoas, ver movimento, falar com pessoas positivas. Ele percebeu que tem tudo para melhorar, para ficar mais feliz, apesar de lhe custar avançar. O que eu percebo, eu que com 19 anos vou ao tapete e custa-me levantar-me, a ele, deve-lhe custar muito mais. No entanto, é possível! E no fim, quando me despedi e dei-lhe um beijo ele agradeceu-me por ter ido visitá-lo, pois a tarde dele tinha sido muito melhor e tinha-lhe feito muito bem. Saí de peito cheio, de coração enorme. Quando deixo os outros felizes, fico a explodir de alegria. São momentos como o de hoje à tarde que me movem, que me fazem acreditar que viver dando-nos aos outros é uma dádiva.

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