quinta-feira, 24 de junho de 2010

Por Vergonha de Amar

O título não é meu, muito menos a ideia e a perfeição da reportagem, mas "Por Vergonha de Amar" é uma reportagem da TVI, feita por Ana Leal, que eu aconselho toda a gente a ver. Esta reportagem tem como tema a homossexualidade nos jovens e retrata os casos de várias pessoas. Acho que é impossível não nos emocionarmos com os testemunhos de algumas delas, que com algum sofrimento recordaram como é díficil viver e lidar com uma situação que a sociedade não compreende e julga com veemência. Emocionei-me com as palavras de uns e os gestos de outros, emocionei-me com um jovem de 18 anos que se assumiu dentro de uma família católica e que foi aceite pela família de forma incondicional. Emocionei-me com o facto de uma rapariga ter cortado o cabelo e ter retirado todo o seu aspecto feminino para que quando saísse com a namorada, não fosse julgada e não sofresse mais, por que parecendo um rapaz é tudo mais fácil. Emocionei-me com o rapaz de 16 anos, que tem a voz carregada de sofrimento e que só pode falar com uma professora, pois a família é católica e jamais demonstra abertura para o aceitar no futuro. Emocionei-me com a mãe que aceitou a sua filha desde muito cedo e que a ama incondicionalmente, dizendo com todo o carinho " se eu quando saio com o meu marido à rua, lhe posso fazer um gesto de carinho, porque é que a minha filha e outras pessoas como ela não o podem fazer?". Emocionei-me com a história de uma mãe que ia afagar um filho à noite e que ele chorava a partir dos 11 anos e que não conseguia dizer à mãe porque estava a chorar e que chorou todas as noites até aos 15 anos. Marcou-me esta reportagem, por dois motivos, pelo sofrimento destes jovens e a intolerância da sociedade e acima de tudo pelo papel da religião neste processo.
Como católico, não consigo compreender o julgamento que se faz a estes jovens, o Deus em que eu acredito, aquele com que eu lido desde criança, na catequese, aquele que eu digo às crianças existir, é um Deus misericordioso, que não julga, que nos ama incondicionalmente e por isso nós também o devemos fazer, perdoar, amar, não julgar os outros. Eu sou incapaz de julgar os outros, e não digo isto por dizer, estou consciente do que digo. Que sabedoria tenho eu para julgar outra pessoa? Como podemos nós julgar os homossexuais? Diz-se que são escolhas, eu não acredito que sejam escolhas e como dizia o rapaz de 16 anos da reportagem "eu dava tudo para não ser homossexual". Deve ser um sofrimento enorme, deveríamos estender os braços e oferecer ajuda, não julgá-los, atirar pedras. E sinceramente, a verdadeira essência da Igreja Católica, deve ser a de compreender, não julgar, perdoar, amar, só assim haverá Paz. E é assim que eu quero viver até ao fim da minha vida, porque assim tenho uma consciência tranquila que sabe que fez tudo para o bem dos que me rodeiam.
Eu já passei pela experiência, pelo teste de aceitar alguém diferente, quando uma amiga minha cheia de fantasmas e de dúvidas, teve a coragem de me dizer que gostava de raparigas, que era diferente. E se até aí eu tinha dúvidas se poderia ou não aceitar, essas dissiparam-se, tudo porque lhe disse "Oh A. se eu sou teu amigo, se gosto de ti e estive sempre ao teu lado, vou-me afastar agora de ti, por causa disto? Nem pensar!" Não me arrependo de estar sempre ao lado dela, é claro que são coisas muito diferentes e há experiências que nos fazem um bocadinho de confusão, mas eu sei que comigo ela pode falar, pode ser ela própria e isso deixa-me tranquilo, estou a fazer a minha parte.
Deixo-vos o link da reportagem e reflictam neste assunto, pois eu, que sou conservador, católico praticante e muito defensor de algumas tradições, recuso-me à descriminação.

8 comentários:

  1. Adorei este texto, porque reflecte imenso aquilo que eu penso. Eu acredito em Deus, tal como tu, mas no Deus que descreves, e, por isso, cada vez acredito menos na Igreja como instituição que nos faz julgar, que nos tenta dissuadir de imensas coisas.
    Temos o caso do preservativo, por exemplo. Deus que eu conheço não iria querer que nascessem crianças com doenças, o Deus que eu conheço não se iria importar que os padres e todas as outras pessoas que transmitem a sua palavra tivessem uma família, afinal Ele sempre valorizou isso tanto. Mas isto são afirmações que geram muita polémica e já me estou a alongar.
    Era mesmo só para dizer que concordo imenso com o que dizes. Adorei. Beijinhos

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  2. Mas a Igreja Católica, infelizmente, não é feita de almas como a tua..

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  3. Olha Francisco, muitas vezes pensamos estar certos e não estamos. Mas hás-de concluir que, neste caso, há muito quem não esteja certo, mas não és tu. A igreja católica, como todas as igrejas, ou mais que todas as outras, descrimina, estigmatiza. Se leres com atenção a historia do mundo verás que cometeu as maiores atrocidades á sombra de si mesma - a salvação das almas. Ora, Um Deus que é Deus é de todos e não de quem é católico. Não renega nenhum homem, como um pai não renega nenhum filho. Mas igreja que o é pune os seus homens abusadores de crianças indefesas. Quando os modelos têm pés de barro da pior qualidade, fica apenas lama.
    Como tu, penso que a homossexualidade não é escolha (escolha é a forma como a vais viver; como é escolha a forma como vives a heterosexualidade). É uma condicionante do caminho de alguns. Mas nunca se definiu um homem pelo sexo que tem dentro de si e não escolheu. A Igreja devia aprender a aceitar. Mas desde sempre ensinou a descriminar, o reino dos céus não é o ghetto dos católicos?! Por outro lado, são as pessoas que fazem mudar as instituições. É em nós que temos de esperar. Em pessoas como tu, que ensinam o Deus de braços abertos a todos. Que nem sabemos se existe. Que uns querem e outros crêem.
    Fica bem

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  4. Por vezes conseguimos, apesar de contra a nossa vontade, magoar os que amamos. Ou por nao apoiarmos as suas escolhas, ou por simplesmente afastarmo-nos. Uns fazem-no de propósito, outros acredito que não, mas a verdade é que nos magoam, e quanto mais proximos estao...pior...

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  5. Ola Mysterious, ainda bem que gostaste do texto. Pois, eu tenho fé em Deus e tenho gosto em pertencer à Igreja, apenas fiz este desabafo, mas há muita gente na Igreja a perdoar e a saber amar, muito mais sábios do que eu.
    Quanto ao celibato, a questão é muito complexa e tem razão de ser, talvez um dia eu fale sobre isso. Beijinhos.

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  6. Oh Viviane a Igreja Católica também é feita de almas como a minha e de almas MUITO, MUITO, MUITO melhores que a minha. Beijinhos.

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  7. Anónimo 1

    É verdade que a Igreja Católica já cometeu grandes erros, basta ver a Inquisição, mas a Igreja é feita por todos os fiéis e não apenas pelos sacerdotes e por cardeais. Por isso às vezes, se generalizam questões dentro da Igreja, injustamente.
    Quanto à homossexualidade, pois de facto, eu não acredito que jovens que tanto sofrem por serem homossexuais, o tenham escolhido. É ridículo. Mas é uma questão muito complexa e as pessoas não estão para reflectirem como deve ser acerca de questões complexas.
    Ai, ai, o reino dos céus, se vivermos em Paz cá na terra já chegámos ao céu.
    Obrigado pela visita e pelo comentário.

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  8. Anónimo 2

    Pois, magoar os outros é algo que fazemos várias vezes, umas vezes, conscientemente, outras não. É humano. É preciso sabermos perdoar e sabermos não magoar, e isto, é o verdadeiro desafio, porque é tão difícil. Obrigado pelo comentário.

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