Afinal Morrer Não É Assim Tão Simples….
Desde crianças que nos dizem que um dia havemos de morrer, que por melhor ou pior que a nossa vida possa ser ao longo dos anos, um dia ela acaba. O que esperamos para além disso é que este momento surja com naturalidade, que já velhinhos depois de uma vida feliz num certo dia possamos partir em Paz e da melhor maneira possível. Infelizmente nem sempre as coisas acontecem deste modo, algumas vezes as pessoas morrem demasiado jovens em acidentes ou noutros desastres, por vezes também há pessoas que morrem de forma dolorosa e brusca e outras vezes, morrem de doença. No entanto, até agora não há nada de estranho, o pior é quando se perde a vida sem morrer. E será isto possível? Claro que é. Muitas pessoas encontram-se deitadas em camas de hospitais completamente imobilizadas e cheias de dores, algumas delas em completo estado vegetativo e sem qualquer tipo de dignidade. Estas situações ou são relativamente rápidas conduzindo a uma morte rápida, ainda que possa ser dolorosa, ou arrastam-se durante anos, sentenciando estes doentes a longos anos passados numa cama. Poderá chamar-se a isto dignidade? Muitos deles ficam com os membros totalmente atrofiados e cheios de escaras que surgem por se encontrarem imobilizados durante muito tempo na mesma posição. e estas feridas gradualmente, vão-se tornando de difícil cicatrização levando o doente a sofrer dores angustiantes.
Sofrendo esta situação existem duas opções: continuar a existir, através dos cuidados paliativos ou decidir morrer, através da eutanásia. Ambos implicam a acção médica e no caso da eutanásia é envolvida a ética profissional dos médicos e toda a opinião pública. Mas será que estamos em posição de julgar a escolha de alguém que se encontra durante anos “amarrado” a uma cama a sofrer? Eu creio que não. Ainda no outro dia na televisão ouvia um padre a dizer que “a morte é a coisa mais íntima e pessoal que uma pessoa tem” e eu concordo, mas questiono o seguinte – se é assim tão pessoal e íntima, porque nos havemos de intrometer na escolha dessa pessoa? Será justo? Não será abusivo?
A eutanásia é uma questão controversa e creio que nunca haverá entendimento porque envolve a intimidade de cada pessoa, e a intimidade de cada um de nós é uma questão subjectiva não havendo uma convergência entre todas as pessoas.
No entanto a eutanásia permite que uma pessoa possa acabar com o seu sofrimento através de uma decisão devidamente reflectida e que possa morrer em casa ou no hospital junto de quem gosta de uma forma cómoda e pacífica. Para praticar a eutanásia é preciso que os médicos se disponibilizem para tal e é óbvio, que nem todos se vão disponibilizar, o que é perfeitamente natural. No entanto, haverá sempre quem decida praticar a eutanásia e assim se for legalizada, os doentes poderão ver o seu sofrimento chegar definitivamente ao fim.
Por outro lado, a legalização da eutanásia traz questões muito importantes e que nos devem fazer reflectir. Em primeiro lugar, a sua legalização pode levar a uma prática abusiva podendo causar a morte de pessoas sem o seu devido consentimento.
Em segundo lugar, por vezes é difícil prever com exactidão o tempo de vida que resta ao doente, bem como a existência da possibilidade do prognóstico clínico estar errado e assim, poderiam existir mortes precoces e negligentes.
Em terceiro lugar, os familiares dos doentes poderiam incentivar a pessoa a optar pela eutanásia, com o objectivo de satisfazer interesses financeiros e patrimoniais. E por último, a religião, nomeadamente a Católica, mostra-se contra a Eutanásia porque afirma que a vida provém de Deus e por isso cabe-lhe a ele, dar e tirar a vida, levando assim muitos crentes a rejeitar completamente a prática da eutanásia.
Como vemos, existem vários argumentos contra e a favor da eutanásia e cada um tem a sua opinião. Seja qual for a minha opinião e não querendo tomar partido de qualquer posição, creio que esta decisão é muito pessoal e que não posso julgar alguém que se encontra preso numa cama durante anos a sofrer, porque nunca passei por isso e porque não é justo condenar essa pessoa.
Além disso como será ver-nos ali deitados numa cama, completamente imobilizados, estando a sofrer junto com os nossos familiares? Eu que sempre sonhei e continuo a sonhar em viver muitos anos e morrer velhinho, em paz e com comodidade, acho que não suportaria existir desta maneira. Porque já várias vezes disse e volto a dizer que prefiro morrer a perder a vida.
Francisco C.