sexta-feira, 28 de maio de 2010

Em resposta ao Sea

Afinal Morrer Não É Assim Tão Simples….

Desde crianças que nos dizem que um dia havemos de morrer, que por melhor ou pior que a nossa vida possa ser ao longo dos anos, um dia ela acaba. O que esperamos para além disso é que este momento surja com naturalidade, que já velhinhos depois de uma vida feliz num certo dia possamos partir em Paz e da melhor maneira possível. Infelizmente nem sempre as coisas acontecem deste modo, algumas vezes as pessoas morrem demasiado jovens em acidentes ou noutros desastres, por vezes também há pessoas que morrem de forma dolorosa e brusca e outras vezes, morrem de doença. No entanto, até agora não há nada de estranho, o pior é quando se perde a vida sem morrer. E será isto possível? Claro que é. Muitas pessoas encontram-se deitadas em camas de hospitais completamente imobilizadas e cheias de dores, algumas delas em completo estado vegetativo e sem qualquer tipo de dignidade. Estas situações ou são relativamente rápidas conduzindo a uma morte rápida, ainda que possa ser dolorosa, ou arrastam-se durante anos, sentenciando estes doentes a longos anos passados numa cama. Poderá chamar-se a isto dignidade? Muitos deles ficam com os membros totalmente atrofiados e cheios de escaras que surgem por se encontrarem imobilizados durante muito tempo na mesma posição. e estas feridas gradualmente, vão-se tornando de difícil cicatrização levando o doente a sofrer dores angustiantes.
Sofrendo esta situação existem duas opções: continuar a existir, através dos cuidados paliativos ou decidir morrer, através da eutanásia. Ambos implicam a acção médica e no caso da eutanásia é envolvida a ética profissional dos médicos e toda a opinião pública. Mas será que estamos em posição de julgar a escolha de alguém que se encontra durante anos “amarrado” a uma cama a sofrer? Eu creio que não. Ainda no outro dia na televisão ouvia um padre a dizer que “a morte é a coisa mais íntima e pessoal que uma pessoa tem” e eu concordo, mas questiono o seguinte – se é assim tão pessoal e íntima, porque nos havemos de intrometer na escolha dessa pessoa? Será justo? Não será abusivo?
A eutanásia é uma questão controversa e creio que nunca haverá entendimento porque envolve a intimidade de cada pessoa, e a intimidade de cada um de nós é uma questão subjectiva não havendo uma convergência entre todas as pessoas.
No entanto a eutanásia permite que uma pessoa possa acabar com o seu sofrimento através de uma decisão devidamente reflectida e que possa morrer em casa ou no hospital junto de quem gosta de uma forma cómoda e pacífica. Para praticar a eutanásia é preciso que os médicos se disponibilizem para tal e é óbvio, que nem todos se vão disponibilizar, o que é perfeitamente natural. No entanto, haverá sempre quem decida praticar a eutanásia e assim se for legalizada, os doentes poderão ver o seu sofrimento chegar definitivamente ao fim.
Por outro lado, a legalização da eutanásia traz questões muito importantes e que nos devem fazer reflectir. Em primeiro lugar, a sua legalização pode levar a uma prática abusiva podendo causar a morte de pessoas sem o seu devido consentimento.
Em segundo lugar, por vezes é difícil prever com exactidão o tempo de vida que resta ao doente, bem como a existência da possibilidade do prognóstico clínico estar errado e assim, poderiam existir mortes precoces e negligentes.
Em terceiro lugar, os familiares dos doentes poderiam incentivar a pessoa a optar pela eutanásia, com o objectivo de satisfazer interesses financeiros e patrimoniais. E por último, a religião, nomeadamente a Católica, mostra-se contra a Eutanásia porque afirma que a vida provém de Deus e por isso cabe-lhe a ele, dar e tirar a vida, levando assim muitos crentes a rejeitar completamente a prática da eutanásia.
Como vemos, existem vários argumentos contra e a favor da eutanásia e cada um tem a sua opinião. Seja qual for a minha opinião e não querendo tomar partido de qualquer posição, creio que esta decisão é muito pessoal e que não posso julgar alguém que se encontra preso numa cama durante anos a sofrer, porque nunca passei por isso e porque não é justo condenar essa pessoa.
Além disso como será ver-nos ali deitados numa cama, completamente imobilizados, estando a sofrer junto com os nossos familiares? Eu que sempre sonhei e continuo a sonhar em viver muitos anos e morrer velhinho, em paz e com comodidade, acho que não suportaria existir desta maneira. Porque já várias vezes disse e volto a dizer que prefiro morrer a perder a vida.
Francisco C.

11 comentários:

  1. Oh Francisco, desde já parabéns pela forma como escreves e colocas aqui praticamente todas as questões relativamente à Eutanásia ! Não é fácil... Eu própria penso inúmeras vezes nisso quando vejo aqueles velhinhos nas camas do hospital, alimentados por sonda, e, como tu dizes, sem vida, apenas à espera de morrer ! Mas como também referiste a legalização tem também uma face muito negra, de forma que ficamos assim num impasse ! De qualquer forma gostei muito de dizeres que preferes morrer a perder a vida [ salvo seja ! ] :)

    PS: Acho que o meu Sea vai ficar bem satisfeito ! :D * beijinho beijinho

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  2. Ola Francisco!

    Obrigado pelo comentário no nosso blog e pela prontidão em colocar aqui um texto fenomenal :) Está mesmo completo a abordar todas as visões e partes que entram nesta difícil decisão de viver mais um dia!

    É mesmo complicado algum dia chegar-se a um consenso de como devemos agir e mesmo que uma pessoa deixe clara a intenºao de 'desligar a maquina' penso que ser um de nós a 'apaga-la'.

    Eu sou a favor, mesmo que me custasse imenso.
    Não faço ideia de como será passar para o lado de lá, mas será que estar a sofrer é mesmo viver?

    Abraçao e continua com estes textos incriveis que eu gosto sempre de espreitar ;)

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  3. Shell,
    desde já obrigado pelas tuas simpáticas palavras. A Eutanásia é de facto uma questão muito complexa e que tem muitos "se", mas sinceramente como digo, não me vejo preso a uma cama, sobrevivendo apenas. Digo e volto a dizer, prefiro morrer a perder a vida e nestes casos já não consigo ver vida.
    Pelo comentário que o teu Sea aqui deixou, acho que ficou contente.

    Beijinhos!

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  4. Olá Sea,

    é impossível não querer participar no vosso blogue e nas questões que vocês colocam em diversos posts. A vossa simpatia vence e eu já era para publicar este artigo há algum tempo. Juntou-se o útil ao agradável.
    Pois Sea a decisão é muito difícil e eu não sei muito bem como reagiria, mas penso que também me inclinasse para desligar a máquina, mas é um pouco especulativo este argumento, acho que só passando pela situação. (Esperemos que nenhum de nós passe!)

    Abraço grande e eu continuarei aqui a escrever! Conto com as tuas visitas e os teus comentários!

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  5. olá!
    Hum... um bocadinho como resposta ao teu textinho... eu percebo perfeitamente tudo o que escreveste, e acho que desde do momento em que a Eutanásia for legalizada muita gente vai acabar por morrer sem querer e só porque "sim"... pois, ambos sabemos que existem muitas pessoas más, que só olham para o seu umbigo e que não querem tratara das pessoas doentes, mesmo que sejam familiares... por isso a morte é uma saída fácil para essas pessoas e depois, tal como disseste para satisfazer interesses financeiros e patrimoniais deles...
    Não sou a favor... no entanto, sei que cada caso é um caso, e talvez até consinta que nalgumas situações é preferivel morrer...
    Se fosse médica, não ia conseguir... acho que é preciso ter estomago e uma capacidade mental enorme, para depois não ficarem com um peso na consciência...
    e depois... acho que não seria capaz de deixar "matar" alguém que me é muito!

    Beijinho *.*

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  6. Ao contrário dos que já comentaram,eu seria capaz de praticar a eutanásia e ajudar alguém muito querido a sair do mundo. Desejo que nenhum deles veja a pessoa de que mais gosta a gritar com dores que nem a morfina adormece. Dia após dia,noite após noite. Até que um músculo que se chama coração páre. A morte é isso mesmo que dizes Francisco: íntima e pessoal.Não vejo onde está a caridade de prolon
    gar sofrimentos inúteis. Nem sequer vejo que para que se pratique, todos concordem. Todas as leis se forem inflexíveis tornam-se tiranias do homem para o homem.
    Bom dia para ti

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  7. Su,

    Compreendo que a aprovação da Eutanásia possa trazer questões muito complicadas e que quem esteja interessado na morte de alguma pessoa mais debilitada possa lucrar com esta medida.
    Compreendo que não sejas a favor e que não fosses capaz de clinicamente permitir a morte de um paciente. Mas às vezes a experiência molda-nos e ficamos mais permeáveis a decisões que antes dizíamos serem impensáveis.

    Beijinho.

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  8. Anónimo,

    Compreendo-te muito bem e não quero jamais ver alguém querido a definhar lentamente, sem se mexer, com dores agonizantes. Isso não é dignidade. A morte é exactamente íntima e pessoal e quer eu seja contra ou a favor, esta questão não pode ser projectada no meu umbigo, tem que haver liberdade. Pode ser ridículo o que eu vou dizer, mas se qualquer pessoa em estado saudável pode cometer o suicídio, porque é que uma pessoa que esteja a sofrer demasiado não pode ter a liberdade de pôr fim à vida? É uma opção. Se está errado? Se está certo? Não sei. Mas é essa pessoa que tem que decidir. Ela e só ela.

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  9. Francisco...
    adorei a maneira como descreves aqui quase todos os lados da eutanasia, parabens por isso!
    Eu, nao sei se estou contra ou a favor... ate porque tenho uma tia que está em coma vegetativo á 2 anos, faz agora em setembro dois anos, numa cama de hospital, nao se mexe nao fala, come por sonda... sinceramente nao sei se ouve, nem ve... nao sei mas sei que é me totalmente dificil ir ve-la naquele estado do que por exemplo ir ve-la a uma campa (desculpem a sinceridade mas a magoa é mesmo muito ja) é complicadissimo esta questao para mim...
    por um lado porque adoro a minha tia, e por isso nao queria de todo que estivesse naquela situaçao e naquele sofrimento constante..o que me levaria a ser a favor da eutanasia...
    por outro lado ainda tenho a esperança de que a minha tia recupere e voltemos a viver bons momentos juntos... o que me leva a ser contra a eutanasia...
    Mas isto tambem me levanta uma questao que julgo ser impertinente...
    sera que se ela estivesse nas suas perfeitas condiçoes de decidir o que queria... ela optaria por morrer sem sofrer, ou sofrer para viver?
    por isso nao sei a minha posiçao quanto a isto, mas AMEI a forma como a expuseste...

    (se chegares a responder a este comentario peço que o faças no meu blog por favor)

    e como li todos os teus textos ate este, e adorei a forma como escreves, irei seguir-te :)

    e sem mais assunto te agradeço por abordares um assunto quase que "proibido"... mas muitas vezes pensado

    bjnhos
    Soraia

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  10. Olá Soraia, obrigado pela tua visita ao meu blogue e pelas tuas simpáticas e agradáveis palavras. Compreendo que não tenhas uma posição bem definida acerca do assunto (eutanásia), na vida há muitas coisas que nem são pretas, nem brancas, são cinzentas, e portanto, são mutáveis, irregulares. A morte como eu digo, é algo íntimo e pessoal, logo não pode ser abordada de forma irreflectida e leviana. Por muita que a partida das pessoas que gostamos nos faça sofrer, penso que prolongar a existência de um ser afogado em sofrimento e em mecanismos que já não são os mecanismos de alguém saudável e na posse das suas capacidades, é demasiado cruel. Creio que nestas situações já não são pessoas que estão acamadas, são seres que estão agarrados a uma existência frágil e debilitada. Admiro a sinceridade com que falas deste caso, percebo que seja dolorosa toda essa situação. Claro, é essa a dúvida. O que faria uma pessoa na posse das suas capacidades? O que decidiria? É uma incógnita!

    Obrigado pelo prazer de te ter como seguidora do meu blogue. Quanto ao ter falado deste assunto, apelidado por ti como que "proibido", tenho o costume de o fazer. Gosto de escrever e despertar as emoções das pessoas, tocar-lhes a consciência. Só assim conseguirei escrever e prender o leitor.

    Beijinhos,

    Francisco.

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  11. completamente de acordo, as palavras sim foram sinceras e sairam do coraçao mas isso devia ser sempre assim... porque se damos a nossa opiniao é para ser dada com sinceridade e veracidade :)

    concordo contigo plenamente :)

    OBrigada

    bjnhos,
    Soraia

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