quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Das Reformas ao Celibato


Como sabemos, o celibato é uma prática da Igreja Católica desde há muito tempo atrás. Resumidamente trata-se de um voto de castidade que pode ser justificado pela maior disponibilidade para a prática da fé e pela maior disponibilidade para a entrega aos outros e para a ajuda das outras pessoas.

É principalmente esta última razão que tem inspirado brutalmente o Ministério da Educação, mais propriamente, a Sr.ª Ministra Maria de Lurdes Rodrigues, só que de uma forma distorcida do sentido original desta entrega aos outros.

Pelos menos nos últimos 30 anos, docentes e discentes, têm sofrido as consequências de sucessivas reformas educativas que mudam sucessivamente a carga horária, as disciplinas, o número de exames a realizar e os programas educativos das disciplinas.

Todas estas reformas têm sido feitas sem qualquer apoio por parte do Ministério na formação e esclarecimento dos professores, para que estes se possam adequar a novas mudanças e acima de tudo para que consigam trabalhar sem dificuldades e com garantias de sucesso!

Em vez disso, o Ministério tem imposto regras e mais regras que visam a idealização do professor como uma máquina automática, que processa qualquer tipo de informação sem dificuldades. É exigido sucesso e uma aprendizagem efectiva de conceitos, onde a inexistência de condições para que isso aconteça tem vindo a aumentar.

O professor deixou de ser uma figura respeitada e valorizada pela sociedade, em vez disso, é desrespeitado, desvalorizado, acusado de erros que a sociedade preconiza e acima de tudo é ignorado e desprezado pelos órgãos de soberania que têm o poder de inverter situações causadoras de instabilidade no sector da educação.

Surgindo mudança atrás de mudança, o ministério aproveitou-se deste clima para introduzir um conjunto de medidas, que talvez, seja o mais injusto da história da Educação em Portugal.

É óbvio que falo do famoso estatuto da carreira docente, o conjunto de medidas que tem causado toda a contestação dos últimos tempos e a revolta dos professores. Mas será que os professores têm razão para estarem revoltados?

Eu creio que sim, porque sou aluno e vejo o estado em que a maioria deles trabalha.

Este estatuto introduz novas regras respeitantes à progressão e avaliação dos professores. Regras essas, que não têm em conta o esforço dos professores e algumas necessidades dos mesmos.

O Ministério da Educação, usa frequentemente a bandeira, de que a avaliação dos docentes é essencial no sucesso dos mesmos e que só assim, se garante um sistema de ensino dotado de bons profissionais. E será que os professores estão contra isso?

A grande maioria não, apenas acham ridículo que a avaliação do seu desempenho seja feita por colegas e que eles próprios tenham que avaliar os seus colegas.

É lícito que os professores não se sintam minimamente à vontade para o fazerem, pois esta forma de avaliação é constrangedora e pode não ser a mais justa e imparcial.

Depois esta avaliação é baseada em argumentos que não são os mais adequados à realidade que se vive actualmente, é absolutamente absurdo que um professor não possa praticamente faltar, uma vez que muitos deles são pais e mães e por vezes, é necessário ficar a cuidar dos filhos ou acompanhá-los ao médico.

Depois ainda há a questão do sucesso, os professores são quase que obrigados a que os alunos tenham sucesso garantido, pois ou conseguem-no, ou não evoluem na carreira.

Vendo a questão desta perspectiva, podem surgir graves problemas, nomeadamente a inflação das notas, para valores que permitam a normal evolução do docente. Mas assim, o sucesso que o Ministério tanto ambiciona, não será um verdadeiro sucesso, mas um verdadeiro fracasso.

Estas são só algumas das razões que têm levado a toda esta contestação.

Na minha opinião, todas as reformas educativas têm falhado numa questão fundamental – a valorização dos recursos humanos.

O professor deve ser uma figura respeitada, valorizada e muito estimada pela sociedade, são eles que diariamente contribuem para o futuro do país, formando milhares de jovens, que em breve serão a população activa deste país.

Além disso, os professores contactam frequentemente, com situações complexas e degradantes que afectam os jovens, passando a ser psicólogos, pais, mães e até assistentes sociais. Os professores são agentes fundamentais para a formação de uma sociedade consciente dos direitos e deveres humanos, mas para isso é necessário estimá-los e acarinhá-los.

Com estas reformas e estas recentes medidas, os professores perdem demasiado tempo com papelada, desgastando-se para as actividades lectivas e não sobrando quase tempo nenhum para a família. Hoje em dia, os professores são privados de terem uma vida com tempo para a família e para a sua vida pessoal.

É alarmante a aplicação do celibato a esta profissão, mas torna-se muito aceitável esta opção à prática da profissão.

Passará o celibato a ser obrigatório, para aqueles que querem ser professores?

Sinceramente, só temos que esperar para ver, pois com a habitual mudança das condições de trabalho dos docentes, é bem possível, que a Sr.ª Ministra, venha a exigir que os professores sejam celibatários.


Francisco C.


4 comentários:

  1. Genial querido Francisco, genial. Eu confesso, eu adorava um dia poder exercer uma profissão no ensino, acho que os nossos conhecimentos não servem de nada se não os partilharmos, mas concordo contigo, ser professor não é fácil. Beijinho

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  2. Querida Mysterious, obrigado pelas tuas simpáticas palavras, ainda bem que gostaste. Se tu confessas, eu confesso igualmente, mesmo sabendo que quando digo isto toda a gente me acha louco, gostaria muito de dar aulas. Beijinhos.

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  3. É certo que a Srª Ministra é outra, e que até é mais simpática, mas infelizmente herdou a herança da anterior. Não é ela que manda, é mais a equipa à volta dela, mas é ela que dá a cara e que se tem de responsabilizar pelos actos. O problema reside no facto de que a educação sofre sucessivas reformas. Mas confesso que as tomadas desde há 5 anos para cá, são as piores de todas! É preciso ter em conta os recursos humanos e perceber que o centro da educação são os alunos. Quanto à avaliação dos professores, fiquei bastante satisfeita com o que escreveste. Muitos acham que os professores simplesmente não querem ser avaliados. E, a verdade, não é essa! O mais condenável na avaliação é sermos avaliados por quem não tem conhecimentos na área em que está a avaliar. Estes dois últimos anos fui avaliada por uma colega que dá aulas há 40 anos de Ciências da Natureza 5º e 6º anos e estava a avaliar-me em Ciências Físico-Químicas. No final das aulas ela dizia que aquela matéria não lhe dizia nada, pois já não se lembrava de nada da disciplina. É óbvio que não pode avaliar o rigor científico. Na aula apenas poderia avaliar a relação aluno/professor e vice-versa. Na minha escola tb havia um professor de Educação Visual e Tecnológica a avaliar o grupo de Educação Física. Mas, mais grave é a taxa de sucesso das minhas avaliações aos alunos contar para efeitos da minha avaliação. Recuso-me a subir negativas só para não me prejudicar na avaliação! Enfim, muito haveria a dizer sobre a escola dos dias de hoje... Parabéns o teu texto está magnífico!!!
    Beijinhos

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  4. Olá Deia, de facto a actual ministra é mais simpática e mais flexível que a anterior. Mas tens razão,ela apenas dá a cara pelas medidas tomadas, há muita gente nos bastidores que conduzem todo este conjunto de medidas. O facto que me referiste não me espanta minimamente,até porque pior que isso foi nomearem professores titulares não pela competência mas pelos anos de serviço. E quem é que disse que os professores com mais serviço são os mais competentes? Na escola onde estava, a titular de Física e Química, era uma professora que dá aulas há 20 anos e que todos os anos tem tido processos colocados pelos pais e alunos, eu fui aluno dela e ninguém percebia nada do que ela dizia, toda a gente conhece a incompetência dela, no entanto, ela avalia outros professores de Física e Química que são realmente bons. É ridículo, mas aconteceu. Fazes muito bem em não ceder aos interesses estatisticos, as notas têm que ser o reflexo do trabalho dos alunos e não de um falso sucesso. Obrigado pela visita e ainda bem que gostaste do meu artigo.
    Beijinhos.

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