sábado, 28 de agosto de 2010

Será que me deixam dizer “Amo-te” amigo?


Esta é, talvez, das palavras mais ditas pela humanidade. Aquela que discorre quando gostamos de alguém. Aquela que a maior parte das pessoas conhece em diferentes línguas, tal não é a vulgaridade e a frequência com que é dita. É regularmente protagonizada pelos actores de Holywood que a dizem de forma particularmente bela - “I Love You”, mas não menos conhecida por “Je t´aime” ou “Ti amo”.
Todos nós somos levados desde muito cedo, a dizermos o quanto gostamos de algumas pessoas, como os nossos pais e familiares ou namorados e namoradas.
Mas no meio desta abundância de “Amo-te”, será que as pessoas verdadeiramente sabem o que esta palavra significa? Será que realmente sabem o que é amar e qual é o poder e a força do Amor? Ou será que este sentimento caiu na banalidade e anda de boca em boca, sem que se saiba muito bem o que se está a dizer?
São questões importantes, que nos dias de hoje, devem ocupar um bocadinho da nossa ponderação e do nosso pensamento.
Creio que a maioria das pessoas desconhece a beleza e a verdadeira essência do Amor, o Amor é um sentimento sem limites, é impossível conhecer toda a sua extensão, tal não é a imensidão de laços que ele abarca.
Todos conhecemos o Amor, como o sentimento que os pais têm pelos filhos, e vice-versa, ou como o sentimento que um casal sente entre si. Sem dúvida, que o Amor liga estas pessoas e que pode ser fortíssimo, mas a sociedade não sabe lidar com os diferentes laços que o Amor pode estabelecer.
O Amor não está regulamentado, não tem que ser como as pessoas querem, nem pode ser estratificado ou hierarquizado. Há Amor para além dos pais e dos filhos, do marido e da mulher, ou do namorado e namorada. Há Amor para toda a gente, sem regras, sem escalões, sem crença ou religião.
Será que dois homens, simplesmente amigos, não se podem amar? Não podem sentir-se responsáveis um pelo outro? Não podem querer conservar-se um ao outro, por toda a admiração e respeito que possam sentir?
Podem, mas infelizmente a sociedade não consegue visualizar estes casos com tolerância e humildade, pois dois homens que se amem, são rotulados imediatamente de homossexuais, mesmo que esta não seja a sua orientação sexual e que eles nunca pretendam unir-se fisicamente. O Amor não é necessariamente físico, e é isso, que as pessoas não entendem. Não entendem que não é preciso ser filho ou ser pai, para amar, que não é preciso namorarmos ou estarmos casados com alguém para amarmos ou sermos amados. O Amor é muito mais complexo que isso, é o expoente máximo da profunda admiração entre duas pessoas, da alegria e da profunda consciência da importância que os laços afectivos podem ter.
É por isso, que dois amigos se podem amar, que duas raparigas podem amar-se ou que qualquer pessoa pode amar alguém, sem que tenha obrigatoriamente uma relação que não seja uma verdadeira amizade.
Um rapaz que abrace outro rapaz mais intensamente, que se interesse por saber como está o seu amigo, que partilhe com ele os momentos mais importantes da sua vida, um rapaz que seja amigo de outro rapaz desde criança e que tenha a coragem de dizer “Amo-te”, não deverá ser crucificado, nem rotulado de homossexual. Pois tem muito mais legitimidade para fazê-lo, tendo a verdadeira consciência da capacidade de amar, do que muitos casais de namorados e de pessoas casadas, que por estarem unidos fisicamente, de forma civil ou até porque a companhia de ambos é agradável e lhes dá prazer, dizerem “Amo-te”, muitas das vezes sem qualquer sentido e despojado de qualquer essência ou verdade.
É claro, que podem haver rapazes e raparigas que se amem entre si e e que se possam sentir atraídos mutuamente, mas isso é outro tipo de Amor e o Amor não é uniforme.
O Amor de uma mãe, é o amor incondicional, aquele que por mais adversidades que encontre nunca desampara os seus filhos. O Amor de um casal, o verdadeiro amor de um casal, é aquele que permite que duas pessoas se tornem numa só, tal não é a partilha de vivências e emoções que por ambos é vivida.
A diversidade deste sentimento é grande, aquilo que contesto, é o facto de não ser reconhecido o direito de amigos, por exemplo, se poderem amar, sem que sofram qualquer preconceito. Porque os amigos também se amam e se admiram profundamente uns dos outros e é por isso, que a sociedade tem que aprender a compreender e a aceitar outras formas de Amor, como esta entre amigos, seja de dois rapazes, de duas raparigas ou de um rapaz e de uma rapariga.
Porque todos temos direito a Amar e porque já é tempo de dizer “Amo-te”, sem que este soe a algo leviano e que seja simplesmente uma nota solta, sem grande expressividade.
Francisco C.

6 comentários:

  1. "Porque os amigos também se amam e se admiram profundamente uns dos outros e é por isso, que a sociedade tem que aprender a compreender e a aceitar outras formas de Amor, como esta entre amigos, seja de dois rapazes, de duas raparigas ou de um rapaz e de uma rapariga."
    A melhor parte, para mim é esta. Concordo plenamente contigo! Beijinhos

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  2. Querida Inês, obrigado pela tua visita e pelo teu comentário. Penso que tenho razão nessas minhas palavras, a sociedade tem que aprender que o amor é algo muito superior a tudo aquilo que se diz dele. Acima de tudo, amar alguém, não significa que desejemos esse alguém fisicamente. Beijinhos, para alguém que sem dúvida amo.

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  3. concordo plenamente com o que aqui foi escrito,mais uma vez!

    realmente agora a palavra "amo-te" está deveras muito banalizada... agora nao podes dizer "amo-te melhor amiga" (falo por mim que sou rapariga claro) que és logo julgado e fazem imediatamente demasiados juizos de valor que nao devem de todo serem feitos... custumo dizer que estas sao as consequencias do facto de o casamento entre homossexuais e esta realidade estar agora a descoberto e a olho de toda a gente,sim porque esta realidade sempre existiu so agora é que se fala nela... (nao digo de TODO que sou contra o facto de ter sido finalmente desvendada e mostrada ao mundo esta realidade, porque cada um tem o direito de se mostrar e de fazer opçoes e ser feliz com aquilo que tem e com aquilo que é, e acho bem que assim seja)

    mas tu tens uma pontaria para escrever sobre assuntos que me tocam particularmente.. (eu li o titulo do teu texto logo no dia que o escreveste mas estava com pressa e achei que deveria le-lo com tempo e calma e por isso deixei para hoje) nao me arrependo de o ter "procurado" e le-lo...
    eu ja "sofri" por causa deste assunto, sim porque eu e a minha melhor amiga somos muito unidas e sempre que estamos juntas abraçamo-nos, pronto coisas banais e completamente normais. Mas ja é a terceira pessoa que faz comentarios completamente despropositados e infindados, o que me magoa é saber que foram 3 pessoas de geraçoes completamente diferentes o que indica que este modo de pensar nao fica por aqui ... nem tao cedo acabara...
    a minha sorte (?) é ter uma amizade muito unida com ela e nao deixar que este assunto nos afecte MUITO (porque ele acaba sempre por afectar,por pouco que seja, nao podemos negar isso)...

    mas enfim... parabens pela maneira como "abriste" o tema e o descreveste, mais uma vez adorei :)

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  4. Olá Suh, que bom ver-te por cá. De facto a palavra "amo-te" foi banalizada, assim como muitas outras coisas que andam de boca em boca sem que as pessoas saibam verdadeiramente o que andam a dizer.
    Eheh, ai eu tenho pontaria para escrever sobre assuntos que te tocam? Ainda bem, é sinal que as pessoas incluindo tu, não ficam indiferentes àquilo que escrevo.
    Pois tu e a tua amiga de facto correm esse risco, pois as pessoas vêem coisas onde não existem. Adoram ter tema de conversa, nem que para isso inventem coisas graves e despropositadas.

    Obrigado pelo teu comentário e pelas tuas várias simpáticas palavras. Beijinhos.

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  5. Bem querido Francisco, este texto exprime na totalidade o que penso. O amor tem demasiadas formas, e, acho que a mais valiosa de todas é o amor da amizade, e amar um amigo é amar um amigo, porque, tal como um rapaz tem o direito de amar uma rapariga (e vice versa) sem outras intenções para além da amizade, tal também pode acontecer com pessoas do mesmo sexo. O problema é que ainda há imensos preconceitos com tanta coisa, que, muitas vezes somos incompreendidos, não é?

    Mas amor é amor, e é sempre lindo e maravilhoso! =D
    E não se deve banalizar a palavra, e mais do que a palavra, não se devem banalizar os gestos, temos que os tornar cada vez mais verdadeiros.

    Beijinhooo*

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  6. Querida Mysterious, de facto o amor exprime-se de muitas maneiras. Eu nunca tive problemas em dizer que amo um amigo, mas isto nem sempre cai bem na sociedade. Pois é Mysterious, às vezes, somos incompreendidos. Ainda mais eu sou o menino sentimentalista que quando gosta, gosta a sério. Portanto, tenho o maior amor pelo meu melhor amigo, pelo meu irmão (apesar de já ser outra relação) e por mais alguns amigos. Sou assim, não há nada a fazer.

    Tens razão, o amor é sempre lindo e maravilhoso. E o que disseste é lindo e muito importante, não podemos banalizar os gestos de amor, temos que torná-los verdadeiros. Bravo!!

    Beijinhos.

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